Fundação do escritor Paulo Coelho e da mulher, Christina Oiticica, na Suíça, está de casa nova
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Está de cara nova a Fundação que leva o nome do escritor Paulo Coelho e da artista plástica Christina Oiticica, em Genebra, na Suíça. E de casa nova também. Na verdade, um prédio inteiro, de três andares, onde funcionava antigamente um banco, vai abrigar a fundação do casal. Segundo a imprensa, eles pagaram o equivalente a R$ 80 milhões pelo prédio, que tem até caixa-forte no subsolo e fica numa área nobre em Genebra. Depois de 3 anos de reforma, a Fundação vai abrir suas portas este ano.
Valéria Maniero, correspondente da RFI em Genebra, na Suíça
“Eu tenho uma grande alegria de ter uma Fundação aqui em Genebra que reúne toda a minha obra, que abre espaço para eventos e cursos, que está 100% operacional”, disse o escritor Paulo Coelho sobre o projeto.
Toda a obra de Coelho estará reunida no local. Há referências, por exemplo, à fase musical de Paulo Coelho, com exemplares de discos com Raul Seixas, Vanusa, Fábio Jr. e Rita Lee. No futuro, as salas serão equipadas com fones de ouvido para os visitantes escutarem as músicas dele.
Além disso, há lembranças da infância do escritor, como um sapatinho de quando era bebê e as medalhas que ganhou nos tempos de escola. Manuscritos, assim como arcos e flechas que ele utilizava serão expostos e a máquina de escrever que ganhou com 15 anos ocupa um lugar de destaque.
Como o sonho de Paulo era ser escritor, preferiu ganhar o objeto de presente a uma viagem para a Disney. A máquina, aliás, está sobre a famosa mesinha em que escreveu “O Alquimista”, “Brida” e “Diário de um Mago”. O fardão da Academia Brasileira de Letras (ABL) e os prêmios recebidos da França também estão expostos.
Quem for visitar poderá ver a ficha de quando Paulo Coelho foi preso na ditadura e os relatórios do hospital psiquiátrico, onde foi internado três vezes. Na coleção, ainda há objetos pessoais, como a capa da fase de mago, a jaqueta de quando era hippie, fotografias de vários momentos da vida do escritor, a coleção de cartões e presentes de leitores. Há de 2.700 a 3 mil livros expostos, em 82 línguas, ou seja, um exemplar de cada edição dos livros dele.
Espaço maior para preservar a memória do trabalho dos doisEm Genebra, no apartamento onde mora com o marido, a artista Christina Oiticica deu entrevista à repórter da RFI e explicou por que resolveram montar o espaço dedicado à obra e à vida dos dois.
“A gente decidiu mudar de lugar, fazer esse espaço maior, porque tem um acervo muito grande. O Paulo tem muitos livros publicados, graças a Deus, no mundo inteiro. Só 'O Alquimista' tem mais de 80 traduções. Então, a gente precisava realmente de um espaço para as pessoas que gostam de pesquisar, de conhecer a vida do escritor. E do meu lado, eu tenho muitos trabalhos. Faço muitas exposições, então, queria mostrar também um pouquinho do meu percurso. A gente precisava de um espaço maior para poder mostrar o trabalho e preservar a memória do nosso trabalho”, explicou.
AcervoChristina Oiticica explica que as obras já terminaram, mas faltam alguns detalhes, mas a fundação deve ser inaugurada este ano ainda e as visitas devem ser feitas com hora marcada.
“A pessoa vai poder visitar, fazer a sua pesquisa. Não tem preço de ingresso, é grátis, e vai encontrar muita coisa sobre as nossas vidas. Por exemplo, todo o percurso do Paulo como escritor, antes, como músico, um pouco da história pessoal, os prêmios que ele recebeu. É a nossa história que está ali nesse imóvel”, explica.
O acervo foi distribuído por andar. No primeiro, a parte do Paulo, no de cima, a dela. O projeto é do arquiteto Marcelo Mendonça.
“Lá tem todos os livros dele, os prêmios, vai ter uma parte das músicas, tem uma sala para passar vídeos de conferências dele, da biografia dele também. No segundo andar, é a minha parte, então, tem alguns trabalhos meus, uma parte de vídeo, porque para o meu trabalho é muito importante todo o processo. Tem a minha história”, explica.
Capelinha para santa e, na caixa-forte, vídeo sobre ditaduraÉ também um lugar com direito a capelinha dedicada à santa de devoção do casal e até caixa-forte.
“No subsolo, tem uma pequena capelinha de Santa Dulce, uma pequena sala de exposição para alguns trabalhos novos meus e alguns trabalhos de alguém que a gente queira apresentar, algum artista brasileiro, suíço ou de qualquer nacionalidade. Tem muitas fotos contando a nossa vida”.
Ela explica que no cofre “vai ter um vídeo contando um pouco sobre o Paulo, da fase em que ele foi preso na ditadura militar, no Brasil, e vai ter também a parte do hospital psiquiátrico”.
“A gente achou que o cofre era interessante e resolveu não demolir. A gente falou: não, vamos deixar o cofre e aí vamos contar um pouco dessa parte escura, que faz parte da vida, mas que é uma parte não muito feliz, não muito agradável”.
Fundação ajuda crianças e doentesSegundo a artista, a Fundação existe de duas maneiras: uma invisível e outra visível. À RFI, ela explicou que a invisível é mais importante por fazer trabalhos no Brasil e na Suíça.
“No Brasil, a gente faz com os Meninos de Luz, na favela Pavão Pavãozinho, que são 450 crianças que entram no berçário e vão até a universidade. Temos o hospital de Santa Dulce, na Bahia e o orfanato de Nhá Chica, em Minas. Então, tem esse trabalho que a gente faz com as crianças, os doentes. Esse trabalho é muito mais importante do que o imóvel em si, o prédio em si. E aqui na Suíça também a gente ajuda família de prisioneiros, Caritas, Médicos sem Fronteiras”, contou.
De um andar para um prédio inteiroA fundação saiu do térreo de um edifício para um prédio inteiro, de 200 para 840 metros quadrados.
“O Paulo tem muita coisa, muitos prêmios, muitos livros, muita história. E, realmente, a antiga fundação não tinha essa capacidade. Também para mostrar os meus trabalhos. E aí a gente resolveu fazer uma coisa assim mais definitiva. O local é mais central, melhor, de fácil acesso, e pensando também em abrir para o público. Ela está muito bonita”, diz.
O significado do lugarChristina diz que é difícil responder o que o espaço significa para ela. É um pouco o lugar que vai mostrar uma parte do trabalho deles.
“Mas como eu falei, não é a coisa mais importante. É lógico, a gente, um dia, vai morrer, então, vai ficar um pouco dessa história assim visual para as pessoas verem o legado. Mas eu acho que tem outras coisas mais importantes, a ajuda às pessoas que precisam, os livros que chegam na casa dos leitores. Tem muita gente que diz: a minha vida mudou depois que li esse livro, são muito gratas. O espaço é bom para concentrar o nosso trabalho, o que é super importante também, o mais importante. Mas esse trabalho viaja mais do que fica estático ali naquele prédio”, afirma.