A artista brasileira Letícia Maura volta aos palcos para apresentar seu novo álbum solo em Lisboa
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'Try me' é o título do novo disco da cantora e compositora paulista, e já está disponível em vinil e nas plataformas digitais. “É um convite para conhecerem o meu universo”, avisa a artista, durante a entrevista à RFI. O álbum reúne oito canções que passeiam pelo indie pop -poético com muita sonoridade eletrônica.
Fábia Belém, correspondente da RFI em Lisboa
Vivendo entre Paris e a capital portuguesa, a cantora e compositora Letícia Maura faz o show de lançamento do seu segundo álbum solo neste sábado (2), no Teatro da Comuna, em Lisboa. Diferentemente do 'Poetic Collage', primeiro disco solo lançado em 2019 e que trazia um repertório “bastante híbrido”, com muito acústico e eletrônico, 'Try me' tem outras características, e faz a artista se sentir em casa.
“Então, o que que é essa casa? O que tem dentro dessa casa? Tem uma sonoridade eletrônica, suave, poética, que é onde eu me encontro. Eu acho legal música acústica, amo, mas não é a minha praia. Eu quero navegar em mares mais sonoros. Eu gosto da tecnologia, gosto dos timbres, dos instrumentos virtuais. Eu gosto disso.”
“Sou luz e sombra”Letícia Maura assina as composições e as letras das oitos canções do novo álbum, escritas em inglês e português. A faixa 'Pink hair', no entanto, foi composta com a Vivian Kuczynski, responsável por todos os arranjos. A participação da jovem produtora musical também faz do álbum 'Try me' o resultado de um potente encontro intergeracional.
“Apesar da juventude dela, a Vivian captou uma coisa que é muito forte em mim, que eu acho que eu sou luz e sombra, sabe? E ela sacou isso legal e botou isso nos arranjos”, sublinha a cantora e compositora.
O aqui e o agora, gênero, mulher e outros temas
Letícia, que há seis anos decidiu trocar o jornalismo pela música, revela, nas letras, temas que despertam interesse dos mais variados públicos. A canção 'Try me', que dá nome ao álbum, questiona a capacidade de não sermos possessivos e nos convida a “viver um momento que a gente está com muita vontade de viver, sem ficar colocando barreiras para aquilo acontecer”, explica a artista, acrescentando que “a vida é um pouco ‘o aqui e o agora’. É muito isso”.
No repertório, Letícia Maura também chama a atenção para os amores complexos, a contemplação urbana, a questão de gênero, que está presente na faixa 'Pista azul', um 'dancefloor', “onde eu vejo uma pessoa que eu não consigo identificar se é um boy ou girl, mas eu gosto dela e convido ela para dançar comigo”, conta.
“Eu adoro abordar a liberdade das pessoas serem o que quiserem ser e se vestirem como quiserem se vestir”, reforça. Já a música 'Segunda-feira' é marcada pelo olhar da artista sobre a mulher “que trabalha, a mulher que é mãe, que se vira, tem aquele cotidiano super louco”.
A música poética e visual da artistaGravado em Lisboa, 'Try me' revela uma fusão de imagens e muita poesia. “Tudo parte da palavra”, frisa Letícia Maura, que nunca começa uma música pela melodia, mas sempre pela escrita, pela ideia.
“E, em geral, essas ideias são imagens, também, que eu tenho. Então, eu costumo dizer que a minha música é para quem gosta de ir ao cinema, de ir à exposição de arte, ver quadros. Eu acho que qualquer música minha, qualquer uma, dá para imaginar um filminho. Eu acho que ela é muito ligada à imagem. Mesmo quando eu canto, eu sempre vejo imagens. Enquanto eu estou cantando, eu estou sempre vendo um filminho e cada vez um filminho diferente”, descreve a cantora.
“Try me” no BrasilNo mês de agosto passado, a artista apresentou as músicas do novo álbum no Teatro Centro da Terra, na cidade de São Paulo. “Um teatro cheio de gente”, lembra. Foi a primeira vez que a cantora e compositora apresentou 'Try me'para uma plateia, “e foi uma receptividade incrível. As pessoas realmente curtiram muito”.
O sucesso do novo disco, em São Paulo, “me deu muita força para vir com tudo e começar a fazer shows aqui na Europa”, diz Letícia Maura. Em janeiro, ela segue para Nova York, onde já tem uma apresentação marcada.
Música, literatura e “O sonho de uma vida inteira”Em 2007 e 2008, com a então dupla eletrônica “São Paris”, Letícia Maura gravou os álbuns 'Movimento' e 'Lá', respectivamente. Ela também publicou os livros de poesia 'Poemas de Candeia' (Massao Ohno) e 'Espelho eu' (JS), além do 'Casa 12', uma publicação em prosa poética, editada pela Companhia das Letras. No ano que vem, lança mais dois livros.
A artista brasileira, que se mudou para a França em 1991, há cerca de quatro anos vive entre Paris e Lisboa. Letícia reconhece que as diferentes vivências nos dois países acabaram por influenciar o seu trabalho. A poesia, por exemplo, “vem da minha brasilidade”, avalia. “A França já me trouxe outra coisa que é a flânerie. Quer dizer, você a divagar, você deixar o seu pensamento voar para criar”.
E na lista de desejos da artista consta apresentar o seu mais recente álbum em Paris. “Cantar para os meus amigos, cantar para as pessoas com quem eu convivi a vida inteira lá, com quem eu continuo convivendo”, ressaltou. Ao final da entrevista, Letícia Maura, que sempre quis se dedicar à música, frisou: “Eu estou tendo muito prazer em fazer tudo isso. Estou realizando o sonho de uma vida inteira. Então, para mim, como dizem os portugueses, ‘Já está’. Eu adoro essa expressão [que significa] ‘Tá feito’.”