'O mundo precisa ser mais feminino e mais feminista', diz diretor de 'Betânia' que compete na Berlinale

'O mundo precisa ser mais feminino e mais feminista', diz diretor de 'Betânia' que compete na Berlinale

RFI Brasil
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O longa-metragem "Betânia”, do diretor e roteirista paulista Marcelo Botta, faz sua estreia mundial neste domingo (18) no 74º Festival Internacional de Cinema de Berlim, onde concorre na prestigiada mostra Panorama. O filme aborda a trajetória de uma potente mãe de família maranhense que supera desafios sem se deixar abalar.

Daniella Franco, enviada especial da RFI a Berlim

Prestes a completar 65 anos, Betânia perde o marido, depois a casa, mas jamais a vontade de viver. Parteira desde a infância, sua única demonstração de fraqueza ocorre quando lembra da morte da caçula. As mãos de Betânia trouxeram o neto ao mundo, mas não conseguiram salvar sua própria filha.

A saga desta robusta personagem, interpretada com maestria pela atriz Diana Mattos, também se confunde com a história do paradisíaco Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. A protagonista, aliás, leva o nome de uma cidade da região.

Com uma fotografia de tirar o fôlego e interpretações cativantes, o longa de Marcelo Botta transita entre ficção e documentário, permeado por canções regionais e a cultura do Bumba Meu Boi. A história de Betânia é a história do Maranhão, mas também do Nordeste e da mulher brasileira.

Luta de uma líder comunitária

Em entrevista à RFI na Berlinale, Marcelo Botta contou que a ideia do filme surgiu em 2018, quando gravava um documentário nos Lençóis Maranhenses para a televisão brasileira. No local, ele conheceu a líder comunitária Maria do Celso, que há 50 anos luta para levar energia elétrica ao povoado onde vive - batalha igualmente encarnada pela protagonista do longa.

Em outubro de 2021, após uma incursão de vários dias pelo Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, o cineasta desenvolveu uma relação especial com a cidade de Betânia, resolvendo concretizar o projeto do filme. Ao longo da jornada de produção, Botta criou a personagem principal inspirado em outras mulheres da região e também na personalidade da atriz Diana Mattos.

“Assim surgiu a Betânia, de uma forma que a gente se encantou porque ela traz a força, mas traz a ternura. Por isso, no cartaz do filme tentamos colocar uma imagem que traduz essa personagem. Ela está sorrindo e chorando ao mesmo tempo, que é uma coisa muito brasileira, muito maranhense, conseguir sorrir até nas situações mais adversas”, diz.

Maternidade em foco na Berlinale

A 74ª edição da Berlinale é marcada por produções que retratam a relação entre mães e filhos, como é o caso do longa de Marcelo Botta. Para ele, essa não é uma mera coincidência.

“Todos nós que escrevemos e realizamos cinema estamos vivendo no mesmo mundo, sob a mesmas influências”, observa. “Acho que de certa forma, neste pós-pandemia, a humanidade quer essa volta para colo da mãe depois de ter sofrido muito, esse retorno para esse lugar de aconchego maternal”, ressalta.

Botta, que também vê características da mãe e das avós na personagem de Betânia, diz ser necessário que os homens passem por um processo de desconstrução e reconstrução para valorizar a força da mulher. “O mundo precisa ser cada vez mais feminino e mais feminista”, diz.

“A gente tem que olhar para as mulheres e aprender a ter uma sociedade menos machista. Então eu sentia que era uma missão colocar na tela essa personagem feminina com essa força e esse nível de inspiração“, conclui.