Posições de Brasil e Egito são similares sobre o conflito entre Israel e Hamas, diz embaixador no Cairo

Posições de Brasil e Egito são similares sobre o conflito entre Israel e Hamas, diz embaixador no Cairo

RFI Brasil
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou na manhã desta quarta-feira (14) no Cairo para uma visita de dois dias ao país. Na agenda, um encontro com o presidente Abdel Fattah Al-Sisi deve reforçar os laços políticos e econômicos entre os dois países, que celebram 100 anos de relações diplomáticas ininterruptas. Os dois líderes também devem discutir o conflito entre o Hamas e Israel, que continua a bombardear o território palestino da Faixa de Gaza. Em entrevista à RFI, o embaixador brasileiro no Cairo, Paulino Franco, afirma que o encontro será também uma ocasião para os dois países expressarem a posição comum para um cessar-fogo e uma saída para a crise.

Vinícius Assis, do Cairo

O embaixador do Brasil no Egito, Paulino Franco, recebeu a RFI na embaixada brasileira na capital egípcia. A vinda do presidente Lula tem sido o foco de praticamente toda a equipe da representação, que fica no 18º andar de um sofisticado prédio de frente para o rio Nilo. Curitibano, ele veio para cá no ano passado. Esta não é a primeira experiência dele em um país africano. Paulino já comandou a embaixada brasileira em Luanda, entre 2016 e 2020. Na entrevista, ele afirmou que o conflito na Faixa de Gaza deve estar realmente no foco dos dois principais compromissos do presidente Lula no Cairo: a reunião com o presidente do Egito, Abdel Fattah Al-Sisi, e a visita à sede da Liga Árabe.

“As posições de Brasil e Egito são muito similares em relação ao conflito. Queremos a mesma coisa, queremos um cessar-fogo, queremos que haja um entendimento entre as partes e queremos, claro, que tanto Israel quanto a Palestina possam viver em paz, cada um com o seu país”, afirma o embaixador.

Apesar de estar em uma viagem oficial, a tarde desta quarta-feira foi reservada para uma agenda particular. Lula e a esposa, Janja Silva, visitarão as pirâmides de Gizé, que ficam a cerca de 20km do centro do Cairo. Também devem conhecer um dos museus da capital egípcia. O presidente não deve falar com jornalistas. Ele veio acompanhado dos ministros das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, além do assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim. A comitiva não se hospedará em um hotel. A convite do governo egípcio, todos ficam no Palácio de Qubba, o maior entre as construções históricas mantidas e conservadas pelo país.

Na quinta-feira de manhã, Lula será recebido pelo presidente do Egito, Abdel Fattah Al-Sisi, no Palácio Presidencial. O encontro será privado, mas Lula deve fazer um discurso, que será acompanhado por jornalistas devidamente credenciados. Na ocasião, ele deve agradecer o apoio dos egípcios nas operações conduzidas para se tirar de Gaza mais de 100 brasileiros pela fronteira com o Egito, em Rafah. Mesmo que não seja uma decisão apenas do Egito, o país teve um papel importante nas negociações que beneficiaram brasileiros e familiares palestinos.

“Agradecemos muito às autoridades egípcias por todo o apoio que eles deram. E estamos todos orgulhosos do que fizemos”, disse o embaixador. "Ainda tem brasileiro na região sitiada e a diplomacia brasileira pode voltar a montar uma nova operação de resgate, caso alguém mais queira sair."

Ontem, o governo brasileiro informou estar preocupado com o anúncio de autoridades israelenses da preparação de uma nova operação militar terrestre em Gaza, exatamente na região da fronteira com o Egito.

Após almoçar com o presidente do Egito, nesta quinta, Lula irá para a sede da Liga dos Estados Árabes. A reunião com o secretário-geral da organização, Ahmed Aboul Gheit, também será reservada. O presidente ainda deve participar da sessão extraordinária do Conselho de Representantes da Liga Árabe.

Comércio bilateral 

Outro tema que deve estar em destaque nas discussões são as tensões no Mar Vermelho diante dos ataques houthis às embarcações internacionais em solidariedade aos palestinos. 

“A situação, evidentemente, no Mar Vermelho preocupa todos nós, o Egito e também os países que fazem comércio pelo canal de Suez e em direção ao Mar Vermelho. E, por consequência, ao Oriente e à Ásia. É uma preocupação global e nós queremos que isso possa ser resolvido quanto antes”, avaliou. Para o diplomata, há um interesse de incrementar e expandir as relações econômicas entre Brasil e Egito.

“Há interesse de que empresas brasileiras venham se instalar na zona econômica do Canal de Suez, onde empresas brasileiras, eminentemente exportadoras, possam usar essa zona econômica como uma plataforma de exportações para terceiros países, seja no norte da África, Oriente Médio ou mesmo para a União Europeia”, argumenta. “Esse também é o interesse do Egito, não apenas de importar produtos, mas que empresas se instalem aqui para que empregos sejam criados. É a oportunidade para empresas brasileiras investirem no Egito”, acrescenta.

Segundo o Itamaraty, entre janeiro e novembro deste ano, o Brasil exportou U$ 1,55 bilhão ao Egito, país que se consolida como um dos principais destinos de produtos agropecuários brasileiros na África. 

Antes de partir para a Etiópia, os presidentes devem anunciar novidades sobre o início de voos diretos entre o Brasil e o Egito, que este ano completam 100 anos de relações diplomáticas.