Atleta brasileira do tiro com arco se prepara em Portugal para paralímpico Paris 2024

Atleta brasileira do tiro com arco se prepara em Portugal para paralímpico Paris 2024

RFI Brasil
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A atleta brasileira paralímpica de tiro com arco, Jane Karla Rodrigues vive o sonho de disputar seu quinto paralímpico e está cada fez mais perto de Paris. Exemplo de resiliência, a arqueira goiana, de 48 anos, conquistou a vaga para o Brasil no Mundial de Pilsen, na República Tcheca, em 2023, e aguarda ansiosa a convocação para participar de mais uma edição dos paralímpicos da carreira.

 Luciana Quaresma, correspondente da RFI em Portugal

“Haja coração! Atleta tem que ter o coração forte. Realmente é muita ansiedade porque foi muito bacana ter garantido a vaga para o Brasil na primeira competição valendo vaga para os Jogos Olímpicos de Paris, que foi no mundial na República Tcheca. Foi super emocionante", diz.

"Foi uma grande realização já ter garantido está vaga para o Brasil, mas agora fica a ansiedade de saber logo como será a distribuição das vagas, pois ainda tem atletas que irão disputar campeonatos que também classificam para Paris. Então, haja coração! Isto é o mais difícil, mas faz parte do esporte”, comenta.

Mesmo sem a convocação oficial para integrar a equipe do Brasil, em Paris, a arqueira, que ocupa o segundo lugar no ranking mundial, segue focada. “Ainda não sabemos como vai ser, mas sigo treinando. Venho fazendo este ciclo preparatório para estar pronta para participar do paralímpico de Paris, forte e com grandes resultados", afirma.

"Meu sonho é conquistar a medalha para o Brasil. A preparação continua com vaga ou sem vaga, esse é meu foco: estar bem preparada para o que der e vier! E vamos que vamos, na luta sempre. Se Deus quiser, a vaga vem”, diz confiante.

Natural de Goiânia, Jane deixou o Brasil para morar em Portugal em 2018 com o objetivo de participar de mais competições internacionais.

“A decisão de vir para Portugal foi pela segurança, mas, principalmente, para poder estar mais envolvida nas competições internacionais, porque a maioria delas acontece aqui, na Europa, então consigo participar de mais eventos. Não é fácil, pois é muito dispendioso, mas por eu estar mais perto, consigo participar de mais campeonatos e se eu não estivesse em Portugal seria ainda mais difícil", diz afirmando que a língua também contribui para a mudança. "Se eu fosse para outro país, com certeza seria bem mais complicado", desabafa a arqueira que integra a equipe do Sporting Clube de Portugal.

Oportunidade no esporte veio mais tarde 

Aos 3 anos, Jane teve poliomielite, que deixou sequelas nos membros inferiores. “Perdi força e equilíbrio, mas a vida segue. Cresci, tive filhos, mas nunca imaginei a prática de esporte. Enquanto criança, nunca pratiquei atividades de educação física e ficava dentro da sala de aula, pois na época a mentalidade era outra. Nunca imaginei que o esporte faria parte da minha vida", conta.

"Hoje, as coisas mudaram muito com o Comitê Paralímpico e incentivos nas escolas, pois as crianças que têm alguma deficiência já sabem que podem praticar esporte e seguir uma carreira esportiva e isso é muito importante”, comemora.

Foi em 2003, que Jane entrou para a Associação de Deficientes Físicos do Estado de Goiás (ADFEGO) e foi lá que teve o primeiro contato com o universo esportivo.

“Fizeram uma campanha para que os associados pudessem ir e experimentar alguns esportes e foi assim que tudo começou. Primeiro o tênis de mesa, depois, em 2015, foi quando me envolvi com o tiro com arco. Os resultados estão vindo e vejo como é incrível saber que, mesmo com uma deficiência, podemos ter um alto rendimento e participar de grandes eventos como uma paraolimpíada que é um grande sonho para todos os atletas. Agora, meu foco é conquistar a medalha em Paris e subir em um pódio paralímpico que é meu grande sonho”, afirma a arqueira.

Do tênis de mesa para o tiro com arco 

Depois de 11 anos como paratleta do tênis de mesa, onde chegou a disputar os Jogos Paralímpicos de Pequim e Londres, migrou para a modalidade de tiro com arco em 2014, quando enfrentou um dos maiores desafios de sua vida.

“A decisão de mudar de esporte aconteceu em um período bem complicado na minha vida. Eu tive um câncer de mama e passei por momentos muito difíceis com tratamentos de quimioterapia, radioterapia e cirurgia. Minha mãe também estava com câncer de mama na mesma época. A recuperação também não foi fácil e foi tudo muito sofrido para a nossa família. Quando descobri o câncer eu estava em um período de alto rendimento e tive que parar tudo”, relembra.

Segundo Jane, após um ano de tratamento, conseguiu voltar aos treinos, mas se deparou com outro problema. “A seleção brasileira decidiu adotar outra forma de treinamento e todos os atletas com chance de garantir vagas para as olimpíadas do Rio 2016 teriam que mudar de cidade e, nesta época, eu não tinha condições de levar a família comigo. Ainda tentei, mas ficou muito complicado e acabei por desistir do esporte e comecei a procurar outra modalidade que eu pudesse praticar na minha cidade e estar junto da minha família”, explica.

E foi assim que a modalidade de tiro com arco entrou na vida da atleta. “Eu nem sabia segurar o arco, mas segui em frente. Tive a sorte de ter um ótimo técnico da seleção paralímpica do clube de Goiás e as coisas se encaixaram. Eu treinava muitas horas por dia e consegui recuperar tudo o que perdi. Comecei do zero e conquistei a vaga para o parapan e para os paralimpicos Rio 2016. Foi um período de muito trabalho, mas que no fim compensou. A cada dia estou conquistando mais espaço”, se alegra Jane. 

A primeira competição na nova modalidade foi em 2015, quando conquistou sua primeira medalha. Jane foi ouro na Arizona Cup, nos Estados Unidos. No mesmo ano, ficou entre as dez melhores do mundo e conquistou o primeiro lugar nos Jogos Parapan-Americanos de Toronto, no Canadá.

A primeira experiência paralímpica no tiro com arco veio no ano seguinte. “Na modalidade de tiro com arco, minha primeira experiência em um paralímpico foi em 2016, no Rio de Janeiro. Foi super emocionante, até mesmo pelo pouco tempo de experiência na modalidade e garantir a vaga foi muito especial. A cada competição sinto que vou melhorando. Sou a atual recordista mundial indoor e tenho recordes nacionais. O importante é ver que os resultados estão vindo, pois é um motivo de orgulho e nos dá força para continuar neste caminho”, afirma.

Mais perto do sonho 

No campeonato mundial de tiro com arco ano passado, na República Tcheca, Jane conquistou três medalhas para o Brasil. Na equipe mista, ela teve a companhia de Reinaldo Charão e, na feminina, a atleta subiu ao pódio ao lado de Helena de Moraes. Na disputa individual feminina Composto Open, Jane ainda somou o bronze.

Enquanto a convocação não sai, Jane continua acreditando no sonho paralímpico. “Graças a Deus a medalha também veio no mundial e agora é torcer para que tudo se repita nos paralímpicos de Paris. O sonho é grande e vamos transformá-lo em realidade. O sonho que se sonha só é só um sonho, um sonho que se sonha junto torna-se realidade. Então, vamos sonhar juntos!”, brinca a arqueira.