Pandemia fez aumentar percentagem de mortes em casa em 23 países
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A percentagem de pessoas que morreram em casa aumentou em 23 países durante a pandemia de Covid-19, revela um estudo internacional que analisou dados de 32 países.
Durante a pandemia, os sistemas de saúde tiveram que responder às necessidades dos pacientes com COVID-19, ao mesmo tempo que cuidavam de pacientes com outras doenças fatais. A percentagem de pessoas que morreram em casa aumentou em 23 dos 32 países, revela o estudo desenvolvido no âmbito do projecto de investigação EOLinPLACE: Escolha onde morreremos: uma reforma de classificação para discernir a diversidade nos caminhos individuais de fim de vida.
O estudo foi realizado por quatro equipas de investigação em Portugal, Holanda, Estados Unidos e Uganda e consistiu "numa analise de dados de certificado de óbitos com informação sobre o local onde as pessoas morrem", descreve a investigadora da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Bárbara Gomes, que liderou a equipa portuguesa que integra o projecto EOLinPLace.
"Nós recolhemos a informação em 32 países, com financiamento do Conselho Europeu de investigação que nos permitiu obter e trabalhar esses dados durante uma década - desde 2012 até 2021 - incluímos os dois anos da pandemia", acrescenta a investigadora.
"Este é o maior estudo de tendências internacionais no local de morte e é o primeiro a mostrar o impacto de pandemia. Na maioria dos países foi registado um aumento da morte em casa. Isto é importante porque representa uma mudança nunca antes vista nos cuidados prestados em fim de vida, no sentido de ser um retorno a morrer em casa. Antes da pandemia, já sabíamos que existia uma tendência crescente nalguns destes países, como o Reino Unido e os Estados Unidos. Agora sabemos que há mais países em que essa tendência já se verificava antes da pandemia. Durante os anos da pandemia foi notório esse aumento de percentagem de pessoas que morreu em casa", realça a investigadora da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
"O Uganda foi o único país africano [a participar no projecto] e é um dos países alvo do projecto onde este estudo de insere, que é o projecto OLinPLACE. Neste projecto temos quatro países que fazem parte destes 32 que analisamos - Portugal, Holanda, Estados Unidos e Uganda. Escolhemos estes países porque sabemos que são bastante contrastantes. No Uganda verificamos a taxa mais elevada de morte em casa de todos os países entre os 76 e 82%, antes da pandemia. Verificamos que foi um dos países onde essa percentagem mais diminuiu, ao contrário da tendência dos outros países", concluiu a investigadora Bárbara Gomes.
O artigo científico O aumento da mortalidade domiciliar na pandemia de COVID-19: um estudo de base populacional de dados de certidões de óbito para adultos de 32 países, 2012-2021 foi publicado na revista eClinicalMedicine, editada pela revista The Lancet.